PREVENIR É MELHOR DO QUE REMEDIAR PORQUE MUITAS VEZES, NÃO HÁ REMÉDIO…
O TST (Tribunal Superior do Trabalho) concluiu um dos maiores acordos da Justiça Trabalhista do país na manhã desta segunda-feira. A Shell e a Basf deverão pagar indenização coletiva de R$ 200 milhões pela contaminação de área por substâncias cancerígenas numa fábrica de pesticidas, em Paulínia (a 117 km de São Paulo).
A indenização por danos morais coletivos em R$ 200 milhões será destinada a instituições indicadas pelo Ministério Público que atuem em áreas como pesquisa, prevenção e tratamentos de trabalhadores vítimas de intoxicação decorrente de desastres ambientais.
O processo tratou da contaminação do solo e dos lençóis freáticos da região da fábrica da Shell em Paulínia a partir da década de 70, que teria atingido toda a comunidade local. Em 2000, a fábrica foi vendida para a Basf.
No acordo também ficou garantido o pagamento de indenização por danos morais e materiais individuais de, respectivamente, R$ 83,5 milhões e R$ 87,3 milhões. A soma pode passar o valor de R$ 170 milhões para cada um dos 1.058 ex-funcionários afetados.
As indenizações devem ser pagas até sete dias após a homologação, que ocorreu hoje, sob pena de multa de 20% e 10%, respectivamente, por período de atraso.
CONTAMINAÇÃO
Instalada pela Shell em 1977 no bairro Recanto dos Pássaros, a fábrica foi depois comprada pela Basf e produziu inseticidas e pesticidas até 2002, quando foi desativada por constatação de contaminação ao solo e lençol freático.
Análises demonstraram a presença de metais pesados e substâncias organocloradas (cancerígenas) na região, inclusive na água de poços artesianos que os moradores usavam para beber e se alimentar.
O Sindicato dos Químicos e a Atesq (Associação dos Trabalhadores Expostos a Substâncias Químicas) apontam que, entre 2002 e 2012, morreram 61 ex-trabalhadores –todos com doenças compatíveis às consequências por exposição a agrotóxicos
RELEMBRE:
O PROBLEMA É SÉRÍSSIMO, NÃO PODEMOS DEIXAR CAIR NO ESQUECIMENTO TANTOS ANOS DE LUTA POR UMA RESPONSABILIDADE REAL –
LEIA A
Filhos de trabalhadoras nasceram com sequelas
A história da contaminação dos trabalhadores e vizinhos da fábrica de pesticidas da Shell começou com a compra de uma área de 400 mil metros quadrados em 1974, no então bairro Poço Fundo. A escolha do local não foi aleatória: vista de cima, a área se parece com a concha que simboliza a empresa. A fábrica, apesar dos protestos contra a sua instalação, começou a funcionar em 1977, com 191 funcionários. Em 1992, foi vendida para a multinacional Cyanamid que, em 2000, repassou-a à Basf. Desde antes da primeira venda, a fábrica já colecionava denúncias de contaminação pelo forte odor no ar e na água, que causava mal-estar físicos, gástrico em funcionários e vizinhos.
— Eu tinha de encher a caixa d’água à noite para usar no outro dia por causa do forte cheiro de produto químico — diz Ciomara Rodrigues, dona de uma chácara ao lado da fábrica.
Ciomara, que vive desde 2002 em um hotel em Paulínia custeado pelas empresas, conviveu com a contaminação desde que a fábrica da Shell começou a operar. Foi na chácara, construída pelo pai, que passou a infância e onde nasceram os dois filhos que “tiveram muitos problemas de saúde desde o nascimento”.
— O mais velho vomitava constantemente, tinha diarreia e lacrimejava muito. Mas ninguém desconfiava que a contaminação vinha da chaminé em frente ao portão da minha chácara. Afinal, a Shell é uma grande empresa e ainda tinha o slogan “Você conhece, você confia”. Quem iria imaginar que ela faria isso com a gente? — indaga.
Desde 2003, quando deixou a chácara contra sua vontade, Ciomara sofre de depressão e contraiu várias doenças em função da contaminação. Exames indicam que ela foi contaminada por Aldrin e outros químicos produzidos pela Shell. O filho mais velho, de 34 anos, tem o baço aumentado, um dos sintomas de contaminação, e complicações.
Os nove anos na Shell (1979-1988) tiveram consequências trágicas na vida de Benedita Mary Andrade, ex-coordenadora de serviços gerais. Em 20 de abril de 1990, nasceu com paralisia cerebral seu filho Leonardo, hoje com 21 anos.
— Ele teve má-formação na quarta e quinta semanas devido a problemas de contaminação ambiental — conta Mary, que é professora de artes de uma escola em Campinas e briga na Justiça para receber ajuda da empresa para custear o tratamento de Leonardo.
— Não resolve (a indenização), mas vou poder pagar um convênio. Preciso garantir o futuro dele. Saber que o problema dele foi por causa do meu trabalho, é doloroso.
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