11/05/2004 – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS LER -LAUDO TÉCNICO

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS LER -LAUDO TÉCNICO

I – INTRODUÇÃO

Dentre as inúmeras doenças profissionais que vem acometendo os trabalhadores de diversos setores, destaca-se um grupo de
afecções denominadas LER, que tem chamado a atenção dos médicos por ser altamente incapacitante.

Desenvolvemos este trabalho de investigação levando-se em análise o atendimento dado à 100 (cem) pacientes portadores de LER,
recrutado durante o período de trabalho do Autor como Médico do Trabalho de diversas empresas de variados setores de produção.

Tais pacientes foram acompanhados por um período de dois anos, a partir do diagnóstico de LER. Os resultados apresentados
decorrem da observação e acompanhamento dos casos clínicos dos referidos pacientes.

II – DEFINIÇÃO

Adota-se a terminologia de Lesões por Esforços Repetitivos – LER, para as afecções que podem acometer tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias, ligamentos, isolada ou associadamente, com ou sem degeneração de tecidos, atingindo principalmente, porem não somente, os membros superiores, região escapular e pescoço, de origem ocupacional decorrente de, de forma combinado ou não, de:

a) Uso repetitivo de grupos musculares;
b) Uso forçado de grupos musculares;
c) Manutenção de postura inadequada.

III – DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da LER é essencialmente clínico e baseia-se na história clínico ocupacional, no exame físico detalhado, nos exames
complementares e na análise das condições de trabalho responsáveis pelo aparecimento da lesão.

IV – ESTÁGIOS EVOLUTIVOS DA LER

A LER pode didaticamente ser classificada em quatro graus:

GRAU I – Neste Grau o portador da doença pode referir sensação de peso e desconforto no membro afetado, dor espontânea
localizada nos membros superiores ou cintura escapular, as vezes com pontadas que aparecem esporadicamente durante a jornada
de trabalho e sem interferência com a produtividade. Não há irradiação nítida de dor e a melhora ocorre com o repouso. É em geral
leve e fugaz estando geralmente ausentes alguns sinais clínicos característicos das afecções. O prognóstico é bom.

GRAU II – Neste Grau, a dor é, em geral, mais persistente e intensa e aparece durante a jornada de trabalho de forma intermitente.
É tolerável e permite o desempenho das funções laborais, mas já com reconhecida redução de produtividade nos períodos de
exacerbação. A dor torna-se mais localizada e pode estar acompanhada de parestesia e calor, além de leves distúrbios de
sensibilidade. Pode haver uma irradiação definida, sendo a recuperação em geral mais demorada. Ocasionalmente pode aparecer
quadro doloroso fora do ambiente de trabalho, durante atividades domésticas e ou sociais. O prognóstico é favorável.

GRAU III – Neste Grau , a dor torna-se persistente, mais forte e com irradiação mais definida. O repouso em geral só atenua a
intensidade da dor. É freqüente perda de força muscular e parestesias. Há sensível queda de produtividade, quando não
impossibilidade de exercer as funções laborais. Os sinais clínicos estão presentes, com edema freqüente e hipertonia muscular
constante. Ocorrem alterações de sensibilidade e força. Nos quadros com comprometimento neurológicos compressivo a ENM
pode estar alterado. Neste estágio o retorno às atividades laborais é problemático. O prognóstico é reservado.

GRAU IV – Neste Grau, a dor é forte, intensa e contínua, por vezes insuportável, levando o paciente a intenso sofrimento. Os
movimento acentuam consideravelmente a dor, que em geral se irradia por todo membro afetado. A perda de força muscular e a
pedra dos movimentos se fazem presentes. As atrofias, principalmente dos dedos são comuns. A capacidade laboral é anulada e a
invalidez se caracteriza. Neste estágio são comuns alterações psicológicas com quadros de depressão ansiedade e angustia.

V – ANÁLISE ESTATÍSTICA

Dos Cem casos acompanhados a estatística mostrou-se distribuída da seguinte maneira:

41% – Tendinite do supra espinhoso
20% – Tenosinovite de Quervain
18% – Tenosinovite dos flexores + síndrome do túnel do carpo
11% – Tenosinovite de Quervain + epicondilite lateral
3% – Síndrome cervical + tendinite do supra espinhoso
2% – Miosite dos extensores
2% – Síndrome do túnel do carpo
1% – Fascite palmar
1% – Síndrome do desfiladeiro torácico
1% – Cervicobraquialgia

VI – TRATAMENTO

A conduta terapêutica utilizada para o tratamento da LER pode ser conservadora ou cirúrgica, baseando-se nas formas de
apresentação clínica. A nossa conduta terapêutica conservadora, nestes casos apresentados, baseou-se em:

a) repouso (imobilização + afastamento)
b) Medicação (antiinflamatórios, analgésicos, vitaminas e medicações sintomáticas)
c) fisioterapia
e) terapia ocupacional.

A conduta terapêutica cirúrgica foi tomada por colegas cirurgiões, para os quais foram encaminhados os casos que dela
necessitavam.

VII – ANÁLISE ESTATÍSTICA DE TRATAMENTO

Terapia conservadora:

72% – Melhora com repouso + medicação
89% – Melhora com repouso + medicação + fisioterapia
97% – Melhora com repouso + medicação + fisioterapia + terapia ocupacional
3% – Indicado tratamento cirúrgico.

VIII – PREVENÇÃO

A prevenção de LER baseia-se na adoção de medidas relativas ao tempo de exposição (pausas e limitações de tempo de
trabalho), a alterações no processo e organização do trabalho e na adequação de máquinas, mobiliários, dispositivos,
equipamentos e ferramentas de trabalho às características dos trabalhadores.

Diante da ocorrências de casos de LER, ainda que na forma incipiente e não incapacitante, cabe ao Empregador adotar medidas
corretivas; tais como:
a) Introdução de pausas para descanso
b) Introdução de programas de treinamento de prevenção*
c) Adoção de equipamentos de proteção individual **
d) Redução da jornada de trabalho na atividade geradora de LER
e) Modificações no processo e na organização do trabalho visando a diminuição da sobrecarga muscular gerada por gestos e
esforços repetitivos, mecanizando ou automatizando o processo, reduzindo o ritmo de trabalho e as exigências de tempo e
diversificando as tarefas
f) Adequação do mobiliário, máquinas, dispositivos, equipamentos e ferramentas às características fisiológicas do trabalhador.
g) Realização de estudo para análise ergonômica dos Postos de Trabalho.

* Por ser ferramenta muito útil para diminuição da ocorrência das LER, lombalgias e lesões de coluna, recomendamos a adoção de Programas de Treinamento de Prevenção, introduzido e acompanhado por profissional capacitado. Dentre os vários programas existentes recomendamos os Programas apresentados pela “Bras Golden”.

** Após análise criteriosa dos equipamentos de proteção individual disponíveis no mercado, recomendamos os produtos fabricados pela Bras Golden Ergonomics, tais como, suportes de punho, descansos de punhos para teclados e mouse de computadores, cintos lombares, descansa pés de movimentação rotacional e translacional, cadeiras com contato permanente da lombar, dentre outros.

IX – BIBLIOGRAFIA

Dr. Nader Bujan Lamas  Médico Clínico Geral com especialização em Medicina do Trabalho pela Universidade São Francisco e Pós-graduação em Medicina Desportiva pela Escola Paulista de Medicina.
Rua dos Aliados, 182 – City Lapa – São Paulo/SP
Tel/Fax: (011) 832.5130 – 261.5213 (Celular) 985.2874

Norma Técnica – LER – Lesões por Esforços Repetitivos
Resoluções 180 e 197 de 1992
Secretária Estadual de Saúde de São Paulo

Lesões por Esforços Repetitivos – LER
Crysotomo Rocha de Oliveira
Núcleo de Saúde do Trabalho
Belo Horizonte – MG

Committe of Occupational Medical Practice: Repetitive Motion Injuries –

Journal of Occupation Medicine – Vol. 28 – nº 2 – February 1986

BRAWNE, C. D. et alii-Occupational repetition strain injuries
The Med. J. Aust. 17.329.332-1984

Faciculus “Roche” – Sindromes Dolorosas do Sistema Articular
São Paulo, Maio de 1997 

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